como fazer um ritual de passagem?

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O primeiro tema que escolhemos para dialogar é maravilhoso e nós aprendemos no livro Lua Vermelha, da Miranda Gray, que já recomendamos  aqui. O ritual é uma proposta prática, fácil e que pode mudar a vida de nós, mulheres, para todo o sempre.  

Você lembra como foi sua primeira menstruação? O que você sentiu? Como as pessoas ao redor trataram isso? Bom, se você pensou em medo, vergonha e muuuitas dúvidas, você não está sozinha: a primeira menstruação é um grande marco na vida de qualquer menina, pois é um sinal da natureza que uma nova fase está chegando, de muitas mudanças e amadurecimento. Vamos analisar esses dois sentimentos: vergonha e medo. A gente tinha vergonha que outras pessoas soubessem, mas também existia uma vergonha que se a gente pensar bem não tem nem como explicar, simplesmente é algo que aprendemos a reproduzir e que vinha no “pacote menstruação” sem saber o porquê, essa sensação ficava muito clara quando a gente sussurrava baixinho pra amiga quando precisava de absorvente e enfiava correndo no bolso em milésimos de segundo para ninguém ver, como se estivéssemos cometendo um crime. Já o medo vinha do desconhecimento, parecia que da noite para o dia iríamos nos tornar “mulher”, alguém totalmente diferente, além de não fazermos a mínima ideia do que de fato estava rolando dentro da gente.

É super natural que depois de décadas (séculos?) tratando a menstruação dessa maneira, acabamos não aprendendo formas de dar às boas vindas e explicar para essa menina que ela não está sozinha e que a transformação acontecerá aos poucos, que é apenas um novo ciclo super natural e que ela terá todo apoio do mundo. Mas ainda bem que esse tempo de enxergar e menstruação como algo assustador está acabando - e nós fazemos parte dessa revolução!

Amei, Pantys, mas como uma mãe pode fazer isso? Através de um ritual de passagem e a gente vai dar todas as dicas agora. Mesmo que você não seja e nem queira ser mãe, acreditamos que esse conteúdo seja de igual importância para apoiarmos as mães e meninas por aí, indicando e espalhando essa forma tão linda e lúdica de mudarmos de uma vez por todas a visão que temos sobre menstruação, criando meninas que entendem todo seu poder e potência, meninas que se aceitam e que não têm vergonha de seus corpos.

Chamamos de ritual de passagem um evento simples, mas planejado para celebrar e iniciar as meninas na primeira menstruação. A maioria de nós (ou todas?) não passaram por isso, esse aprendizado é novo e importante para acolhermos e criarmos uma relação melhor dessas jovens com a menstruação. Sabemos muito bem que pode ser bem assustador acordar um dia e pensar “vou ter que ser mulher daqui pra frente”, ainda mais nesse mundo orientado para o masculino onde “ser mulher” ainda significa enfrentar tantos desafios. Mas a questão é que isso está mudando, estamos nos empoderando e percebendo que ser mulher pode ser lindo e incrível e essas meninas precisam saber disso também.

Um ritual de passagem não é apenas uma celebração, mas uma chance de marcar um momento, de dar boas vindas e renovar esse novo elo entre mãe e filha, abrindo caminho para uma nova conexão, ainda mais especial. Com isso as mães têm a chance de quebrar um ciclo, de dar o que provavelmente não tiveram, pode parecer difícil por ser tão novo, mas é também o caminho da cura de tantos anos, décadas, em que a menstruação foi perpetuada como algo ruim. Esse despertar para a feminilidade pode ser maravilhoso se tratado de forma natural e com acolhimento.

Abaixo reunimos algumas dicas de como fazer esse ritual, nos inspiramos nos ensinamentos do livro Lua Vermelha e adicionamos também nossos pitacos para simplificar ainda mais a criação dessa novidade transformadora!

pense em como reagir

Planejar algo a dizer ou o mood para que ela não eternize esse momento como algo que envolva medo e decepção é muito bom. A primeira menstruação é algo que lembramos por toda a vida e provavelmente reproduzimos para nossas filhas (caso façamos a escolha de ser mãe, claro), então é muito importante a mãe pensar em como reagir para quando acontecer, já que nunca saberemos exatamente quando será. Pense em algo positivo que você gostaria de ter ouvido, reaja mostrando que é algo bom e natural e não um susto ou uma notícia assustadora. E, principalmente, além de naturalizar, mostre que você também passou por isso assim como todas mulheres ao redor, que é apenas um caminho natural na vida e que ela não está sozinha, sempre pode recorrer a você, nada mudará drasticamente do dia para a noite, é uma caminhada.

fazer coisas juntas

Reservar um tempo de mãe e filha, só de vocês duas, cozinhar, dançar, desenhar uma paisagem juntas, assistir uma série e comentar depois, sair para tomar um chá - escolha algo que sua filha ame fazer. O importante é ter frequência e leveza, sem assustá-la com perguntas, porque, ao criar esses momentos, aos poucos a conversa vai fluindo naturalmente e isso vai ajudá-lar a perceber que você não a enxerga mais como apenas uma criança, mas que a respeita de igual para igual.

exemplificar com lendas e arquétipos

Ao apresentar elementos da natureza e histórias da infância para exemplificar transformações, fica mais fácil mostrar que esse é um processo natural, assim como acontece com a borboleta, com as estações do ano e até mesmo nos contos de fada, como a Bela Adormecida ou a Branca de Neve - em que as personagens enfrentaram passaram por uma grande evolução. Usar a natureza e histórias já conhecidas como exemplo dessa grande transformação ajuda a naturalizar.

contar sobre a nova fase cíclica

Essa é uma das informações mais importantes que essa jovem mulher pode receber, pois durante a infância as emoções são lineares, mas com a menstruação nos tornamos cíclicas. E o que exatamente queremos dizer com isso? Que nos sentimos diferentes em cada uma das quatro fases do mês, isso altera nossa criatividade, nossa disposição e nossas emoções, e não é ruim, muito pelo contrário: é uma renovação constante que nos dá a oportunidade de aproveitar o potencial e as singularidades de cada fase, respeitando nosso corpo. Para simplificar, podem ser usadas as estações do ano ou as fases da lua como comparação, ou até mesmo animais, como a coruja, para representar a fase de sangramento, dizendo que ela pode querer ficar mais sozinha, mais quieta e silenciosa como a noite e que isso é não apenas normal, mas mágico!

se deixar ser guiada

Manter abertura e não transformar o ritual em uma aula chata onde a mãe dá informações e a menina recebe passivamente, muito pelo contrário, deixar que ela seja a protagonista e conduza essa experiência, abrindo espaço para perguntas. Garantimos que ela está cheinha de dúvidas e a mãe pode responder a partir de sua própria experiência, para não ficar como detentora da verdade absoluta, criando uma relação mais próxima e de igualdade, como amigas.

chamar outras mulheres para participar

Ao convidar outras mulheres, a criança vai entender que todo mundo passa por isso, além de ter a chance de conhecer visões e aprendizados diferentes sobre o ciclo, não ficando com apenas um ponto de referência (a mãe). A maior beleza dessa inclusão, além do apoio, é que quando a filha não se sentir à vontade para recorrer a mãe, ela terá outras opções que guardarão seus segredos e estarão prontas para ajudá-la nesse despertar do feminino.

presentear

Ao final do rito a jovem mulher pode ser presenteada com uma fita, um cinturão, uma borboleta, um unicórnio, não precisa e até melhor que nem tenha muito valor material, a ideia é eternizar e simbolizar esse ato, trazendo sua importância e o porquê que ele foi feito. Uma mandala lunar também pode ser uma ótima lembrança, pois ensinará a menina a se observar e registrar seu ciclo, melhorando seu autoconhecimento.

Esse ritual pode ser o início ou fortalecimento de uma grande amizade entre mãe e filha. Indique ele para mães que você conhece e não se esqueça de indicá-lo sempre que possível para que a nova geração, desde a primeira menstruação, já cresçam sabendo que menstruar é completamente normal, é uma abertura para uma fase incrível que ela pode realizar no ritmo que ela quiser e sem vergonha alguma, criando uma rede de mulheres que sabem e ajudam a criar meninas fortes e confiantes de seu corpo e de sua potência no mundo.

E aí, já conhecia o ritual de passagem da primeira menstruação? Esperemos que tenha gostado. Marque sua amiga que tem filha e vem participar dessa aventura cheia de amor e coragem com a gente. Começar um novo ciclo desde o início é revolucionário e pode mudar para sempre a nova geração, e acompanhar esse processo, então, é puro crescimento!


1 comentário


  • Ana

    Por que o texto reforça tanto que essa eh hma conversa de mãe e filha? Pode ser de pai e filha, também


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