Bia, Larissa, Luedji e Xênia: vozes que movimentam

Já reparou que o netflix tem uma seção chamada “Filmes com mulheres protagonistas fortes”? Como refletimos no texto anterior, é essencial consumirmos conteúdos que expressem a perspectiva feminina de mundo, já que por tanto tempo conhecemos apenas a visão de protagonistas masculinos (tanto artistas, quanto personagens). Conhecer narrativas femininas nos ajuda a entender melhor a gente mesma e mais significativo ainda é fortalecer o protagonismo de mulheres negras, que por tanto tempo não tiveram esse espaço. Chegou a hora de engrossar esse coro e fazê-las reverberarem ainda mais pelo Brasil e pelo mundo.
Hoje vamos indicar cantoras que vieram para dar uma reviravolta na música brasileira e nas estruturas desiguais da nossa sociedade. Que honra viver no mesmo tempo que essas cantoras que são a pura potência da criatividade e da música boa! Provavelmente você já ouviu falar delas, mas hoje é aquele dia de finalmente colocar na playlist, sabe? O tempo é agora, vamos lá?
Bia Ferreira é cantora, compositora e manda um papo reto em suas músicas, sem deixar a poesia de lado. Sua principal bandeira é o feminismo negro. Ela se apresenta como cantora de MMP - música de mulher preta. Bia joga luz sobre uma questão importante: os contornos e questões específicas do feminismo negro que têm urgência e muitas vezes são deixados de lado, ou como ela diz em sua faixa “De dentro do Ap”, “sempre deixando pra amanhã”. A sergipana faz música desde os 15 anos de idade e com seu soul e seu violão lança versos diretos e com questionamentos importantíssimos, questionando a linguagem do movimento feminista quando não inclui as questões específicas das mulheres negras.
“Quantas vezes você correu atrás de um busão
Pra não perder a entrevista
Chegou lá e ouviu um
Não insista
A vaga já foi preenchida, viu
Você não se encaixa no nosso perfil”
[Trecho da música De Dentro do Ap. Álbum Território Conquistado - 2016].
Em seu álbum intitulado “Trovão” (2019), Larissa já deixa claro a que veio: o símbolo foi escolhido pois representa a justiça. O som da cantora veio para provocar e mistura o ritmo dançante das batidas eletrônicas com ritmos africanos, escancarando a urgência da justiça social, um dos temas centrais de sua obra é a luta contra o racismo. Com esse disco, Além do Grammy, concorreu ao prêmio da música Brasileira, a melhor álbum no Women’s Music Even, conquistou o prêmio de melhor Videoclipe no Prêmio Caymmi de música e revelação no prêmio SIM da música. Seu show é um ritual super moderno e apresenta a artista multifacetada que ela é: já participou do musical de Elza Soares, representando a cantora, e dirigiu seu novo clipe com a música que dá nome ao álbum. Ouvir essa baiana, além de ser uma delícia, é um aprendizado gigantesco!
“Eu quero voar
Escrever o meu enredo
Liberdade é não ter medo
Eu não vou entrar nessa jaula
Eu não nasci pra ser adestrada
Me deixa correr no espaço
Deixa eu exibir a minha pele pintada”
[Trecho da música Descolonizada. Álbum Território Conquistado - 2016]
Além de cantora, Luedji Luna é uma compositora talentosíssima e imprime uma suavidade comovente ao mixar a complexidade do jazz e do blues com ritmos africanos e brasileiros. Sua primeira música, “Um Corpo no Mundo”, viralizou e deu origem ao álbum de mesmo nome. São onze faixas que abordam temas como pertencimento, imigração e a identidade afrobrasileira.
Com nome de rainha (Luedji foi a primeira rainha africana da etnia Lunda, do início do século 17), ela cumpre com sabedoria essa majestade, conquistou vários prêmios como “Bravo!”, “Caymmi de Música” e o “Prêmio Nacional de Expressões Afro-brasileiras”, além de ter concorrido em duas categorias (melhor álbum e cantora) no “Women’s Music Event 2018”. E, além de tuuudo isso, ela ainda é co-fundadora do projeto “Palavra Preta” -mostra que reúne compositoras e poetas negras de todo o Brasil. Luedji compõe canções que mais parecem orações que viciam!
“Eu sou um corpo
Um ser
Um corpo só
Tem cor, tem corte
E a história do meu lugar
Eu sou a minha própria embarcação
Sou minha própria sorte”
[Trecho da música Um Corpo no Mundo do álbum homônimo - 2017]
Referência de empoderamento feminino e do feminismo negro. Você já conhece essa força da natureza chamada Xênia França? Nascida na Bahia, sua música e seus shows têm uma vibe afrofuturista regada por muito diálogo com o público. Em seu show mais recente, em que estivemos presentes, ela mesma definiu que “o palco é uma forma de terapia” (e que sorte a nossa que é assim), quando embarcamos na nave que Xênia convoca, a sensação é mesmo de levitar e conseguir sentir a nova era que queremos. E se o futuro for mesmo assim, ele tem som de África, pop, eletrônico e jazz, ou pelo menos é o que dizem seus prêmios lá fora: ela foi indicada ao “Latin Grammy 2018” por seu álbum de estréia “Xênia” e também pela música “Pra Que Me Chamas?”. O clipe da mesma música foi indicado ao “Berlin Award”, uma obra audiovisual permeada por simbolismo e ancestralidade - a gente super recomenda assistir para entender um pouquinho da potência dessa mulher.
“Na boa viagem
João malvadeza
Perdeu a tereza
E deu de perturbar
A nega tereza
Cansada de guerra
Trocou de guerreiro
E foi guerrear”
[Trecho da música Tereza Guerreira, do álbum Xênia. Ano 2017]
Elas não são incríveis? Que orgulho. Vamos apoiar e aproveitar essa onda de cantoras brasileiras maravilhosas e ouvir o que elas têm a nos dizer? Resgatando e nutrindo nossas raízes, a gente ajuda a equilibrar esse mundão. Dá o play e vamos juntas!
Tem mais dicas de vozes que precisamos amplificar? Compartilha com a gente aqui nos comentários e vamos continuar movimentando o mundo para a evolução.
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