A (falta de) representatividade na indústria cinematográfica

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O debate sobre representatividade está presente em diversas esferas sociais, incluindo a indústria cinematográfica. O assunto é constantemente abordado quando os festivais revelam os indicados às premiações, por exemplo.

Em 2020, antes mesmo da premiação do Oscar (The Academy Awards), alguns resultados já eram certeiros: nenhuma mulher ganharia o prêmio de melhor direção e nenhum homem negro ganharia a estatueta de melhor ator ou protagonista coadjuvante. Isso porque não houveram tais indicações.

Então, quando questionamos o que é representatividade e qual é a sua importância, estamos falando sobre esse tipo de situação. Por que homens e mulheres negras não são indicados? Aliás, por que eles não ganham papéis de protagonistas? Por que temos menos mulheres em cargos de direção, produção e roteiro?

Falar sobre representatividade é também tocar no assunto da diversidade. Bom, amiga, já deu pra ver que o nosso papo hoje é complexo, mas suuper necessário, né? Então, vem com a gente entender mais sobre o tema <3

um problema estrutural

A falta de representatividade não está restrita ao Oscar e outras premiações internacionais, pois ela está presente em toda a indústria cinematográfica. Isso engloba cargos de produção, direção e roteiro, por exemplo.

A professora Stacy L. Smith comandou um estudo, em 2016, que analisou mais de 21 mil personagens de 400 filmes e séries no período entre 2014 e 2015. Os resultados revelaram que apenas 33,5% dos papéis com falas eram de mulheres. Além disso, somente 28,3% eram de pessoas não brancas.

Portanto, não podemos ignorar o fato de que vivemos em uma sociedade na qual os sistemas de poder foram criados por homens brancos. Em geral, são eles que possuem os cargos de direção e gerência das empresas, independentemente do setor de atuação, por exemplo.

Por isso, falar sobre representatividade feminina e de não brancos é, sim, questionar esses espaços e essas estruturas.

representatividade negra do Oscar

A primeira premiação do Oscar aconteceu em 1929. E, considerando os dados até 2019, das 3140 estatuetas distribuídas na história do Oscar, apenas 44 foram para profissionais negros, o que revela a falta de protagonismo negro na premiação.

Muitos anos foram necessários para que uma mulher afro-americana erguesse a estatueta. Hattie McDaniel ganhou como Melhor Atriz Coadjuvante, pelo papel da escrava Mammy em “...E o vento levou”, em 1940.

O primeiro homem negro a ganhar uma estatueta veio muito depois de Hattie. Em 1963, Sidney Poitier recebeu a estatueta de Melhor Ator pelo filme “Uma Voz nas Sombras”. Denzel Washington foi o segundo homem negro a ganhar um prêmio na categoria; ele conseguiu o feito décadas depois de Poitier, apenas em 2002.

Aliás, vale ressaltar que o primeiro diretor negro a ganhar o principal prêmio do Oscar, a estatueta de Melhor Filme, foi Steve McQueen, em 2014, por “12 Anos de Escravidão”.

Oscar So White (Oscar tão branco)

Em 2016, a frase #OscarsSoWhite (Oscar tão branco, em tradução livre) tomou conta das redes sociais. Isso porque, pelo segundo ano consecutivo, nenhum dos indicados às principais categorias da premiação era negro. E são nesses momentos, amiga, que a falta de diversidade fica ainda mais escancarada.

Em meio ao debate sobre representatividade negra no Oscar, em 2016, a Academia revelou que 93% — dos 6 mil membros — eram brancos, sendo que 76% eram homens. São essas pessoas que definem os indicados e é por isso que precisamos falar sobre diversidade abordando todos os aspectos da indústria cinematográfica.

Depois das críticas e das campanhas nas redes sociais, a Academia definiu a meta de dobrar o número de membros que são mulheres e que fazem parte de minorias. Para isso, foi necessário expandir o número de votos, alcançando 9 mil pessoas. Entretanto, a Academia continua sendo majoritariamente masculina (68% dos integrantes) e branca (84% dos integrantes).

a importância do posicionamento

Depois de entender os exemplos de representatividade ou da falta dela, é importante ter em mente que o Oscar reflete o mercado. Por isso, campanhas nas redes e boicotes à premiação surtiram efeitos. Afinal, a Academia precisa ouvir o público responsável pela bilheteria dos filmes.

Prova disso são as novas regras de representatividade para os indicados ao prêmio de Melhor Filme. Elas vão valer na premiação de 2022 e serão obrigatórias a partir de 2024. Confira, de maneira simplificada, os quatro padrões que serão considerados nas próximas edições:

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  • Padrão A: representatividade de temas e narrativas na tela. Inclui protagonistas, coadjuvantes e tramas com atores pertencentes a etnia grupo racial pouco representado (negro, nativo-americano, latino/hispânico, norte-africano, nativo havaiano, asiático). Além de grupos pouco representados como mulheres, LGBTQI+, grupos raciais ou étnicos e pessoas com deficiência.
  • Padrão B: liderança criativa e equipe do projeto. Também se refere a maior diversidade na equipe que cria os conteúdos audiovisuais, incluindo posições de liderança e chefes de departamento.
  • Padrão C: acesso à indústria e à criação de oportunidades. Nesse caso, a empresa responsável pelo filme ou documentário deve oferecer oportunidades de emprego para grupos pouco representados, além de ampliar o acesso a esses espaços por meio de estágios remunerados aos profissionais em início de carreira.
  • Padrão D: desenvolvimento com o público. Isso significa que os executivos seniores (das equipes de marketing, publicidade e distribuição) devem fazer parte de grupos pouco representados.

representatividade importa

Precisamos lutar para que mulheres e grupos pouco representados tenham mais espaço. Queremos mais diretoras negras, mulheres na produção executiva e homens de outras etnias ganhando papéis principais.

Queremos mais narrativas com protagonismo feminino! Nossa sociedade é diversa e não há motivos para que o nosso cinema seja padronizado. E, como espectadoras, também precisamos nos abrir para as produções que saem do padrão de Hollywood.

Por um mundo com menos tokenismo e mais representatividade verdadeira. Seguimos juntinhas nessa jornada <3


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