economia do cuidado: o trabalho invisível feminino que faz a roda girar

Ilustração de mulher fazendo malabarismo com formas geométricas

A pandemia trouxe à superfície uma série de serviços essenciais que, antes, ficavam na invisibilidade. Sim, estamos falando da economia do cuidado. Se antes eram relegados, agora se tornam ainda mais imprescindíveis pra que a gente cuide da saúde individual e coletiva das pessoas e do planeta. E pra começo de conversa, vale explicar o que são esses serviços, né?

Muita gente acha que é só quando alguém presta cuidados à outra pessoa, mas, na verdade, é bem mais que isso. A economia do cuidado engloba desde o dar banho em uma criança, fazer comida para uma família e remediar um doente até o ir ao supermercado, lavar roupas e cuidar da casa. São horas e horas de trabalho desprendidas para garantir o bem-estar de quem nos cerca. Você conhece alguém que faz isso, né? Pois é, a gente também e, na maioria esmagadora das vezes, quem está por trás dessa feitura é uma mulher.

responsabilidades domésticas

Somos responsáveis por cuidar de crianças e idosos e por organizar a vida familiar. Se, aliás, estamos todos aqui, é porque fomos minimamente cuidados — nos deram comida, proteção, remédios, vacinas, educação. E apesar de extremamente necessário para que o mundo gire e prospere, todo esse trabalho ou não é remunerado, quando no âmbito doméstico, ou é mal pago, quando terceirizado.

Nos casos em que não é remunerado, isso tem implicações diretas no desempenho da mulher no mercado de trabalho. Quanto mais tempo e dedicação entregamos à economia do cuidado, menos tempo e menos energia temos para dedicarmos à carreira. Além disso, de acordo com levantamento da Oxfam, o valor monetário global referente ao trabalho do cuidado não remunerado chega a US$ 10,8 trilhões por ano — um montante três vezes maior do que o estimado para toda a indústria de tecnologia do mundo. Isso sem falar da jornada de trabalho tripla das trabalhadoras domésticas que chegam em seus lares e ainda precisam fazer todos os serviços de cuidado.

serviços de cuidado

Se olharmos os dados brasileiros, a situação também é preocupante. O estudo aponta que 90% dos serviços de cuidado são realizados informalmente por famílias e que desse percentual quase 85% é feito por mulheres. As projeções futuras também preocupam: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2050 o País terá cerca de 77 milhões de pessoas dependentes de cuidado, entre idosos e crianças. Ao cruzarmos o dado com informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que diz que apenas 30% dos municípios, hoje, contam com instituições de assistência a idosos, percebemos que, se nada for feito, a carga desse trabalho invisibilizado recairá de forma ainda mais potente sobre os ombros femininos.

No ano passado, em meio à pandemia, a Think Olga deu vida ao projeto Laboratório Think Olga de exercícios de futuro. Um dos resultados foi o Vale do Cuidado, com números extraídos de fontes como Ipea, IBGE e OMS e cruzados em forma de textos e gráficos. Para termos uma dimensão do tamanho do trabalho, segundo o estudo, uma mãe que amamenta por seis meses, por exemplo, teria realizado 650 horas de serviço não remunerado. Mas o Laboratório não para por aí e também propõe formas de visibilizar o trabalho invisível das mulheres na economia do cuidado. Por lá, é possível descobrir caminhos para desvincular o cuidado da construção de gênero, parear o cuidado entre diferentes raças e para mulheres não brancas, além de apontar formas da economia incorporar o cuidado e subsidiá-lo e fazer com que a educação de crianças seja entendida como trabalho essencial de todos.

Para Nana Lima, cofundadora e diretora de impacto do Think Eva e Think Olga, está mais do que na hora de colocar essa discussão na mesa: “No Brasil, estima-se que as horas de serviços de cuidado somam aproximadamente 11% do PIB nacional. Nenhuma outra indústria chega nem à metade desse número. Portanto, é algo que precisamos começar a contabilizar consigamos, também, iniciar um processo de visibilização desse trabalho e de uma justa remuneração para ele. Esses serviços deveriam, inclusive, ser considerados o maior subsídio para a economia porque, afinal, se todos chegamos à idade adulta é porque fomos cuidadas e cuidados e muito provavelmente foi por uma mulher que não teve seu trabalho reconhecido. E há um agravante em tempos pandêmicos que é o fato de que metade da força de trabalho feminina está desempregada. Ou seja, além de estarem impossibilitadas de buscar a renda da casa pela qual, na maioria das vezes, elas são responsáveis, têm sua autonomia cerceada e passam a ser ainda mais sobrecarregadas com as tarefas de cuidado”, explica.

Ainda há muito a ser feito, mas estamos atentas. Muitas de nós, como a Nana e a Think Olga & Eva, estão na linha de frente para garantir que mudanças concretas sejam decretadas. Temos de pensar e agir, sempre com o objetivo de que dias melhores venham para todas nós — é pra isso que a gente luta <3


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