a vida saudável que pode existir por trás de cada orgasmo
Se no exato momento em que atingíssemos o orgasmo nosso cérebro fosse fotografado, a imagem seria semelhante a uma supernova — aquelas explosões muitíssimo brilhantes de algumas estrelas em sua fase final, sabe? Poeticamente falando, seria nossa petite mort, como diriam os franceses fazendo referência ao período refratário depois de um clímax intenso. Mas, para além dos imaginários, a verdade é que há muita vida nos êxtases sexuais femininos.
Quando temos uma descarga repentina da tensão sexual, mais de oitenta diferentes áreas do nosso cérebro são ativadas. Os níveis de oxigenação e do fluxo de sangue aumentam consideravelmente, levando benefícios para todos os sistemas principais. Mas como aproveitá-los se, durante tanto tempo, fomos vítimas de um sistema que inibe nossos desejos e nos afasta do prazer? Se fomos educadas e sensibilizadas para a insegurança, para que não olhássemos para nós mesmas com amor e compaixão?
Essa falta de confiança e a sensação de que não somos dignas de acessar os prazeres mais diversos faz com que nossa sexualidade — e as expressões dela — seja mascarada. Uma pesquisa realizada no Standford University Medical Center mostrou que a maioria das mulheres jovens e saudáveis que reclamam do fato de não atingirem o orgasmo acaba descobrindo que isso tem mais relação com fatores psicológicos do que físicos. É a pressão social, a vida corrida, a jornada de trabalho muitas vezes tripla, o cansaço, as opressões, o desconhecimento do próprio corpo, a vergonha. Você se identifica, amiga?
Vale ressaltar que muitas mulheres têm problemas de saúde físicos que também podem atrapalhar o êxtase, como o vaginismo, e que, independente de qual seja a fonte do desequilíbrio sexual, merecemos que ela seja detectada — e resolvida. Isso porque existe na sexualidade feminina um ciclo nocivo que se retroalimenta: sofremos uma pressão mental tão grande que muitas vezes nossa vida sexual é pautada por experiências ruins que, por consequência, transformam-se em ainda mais fatores negativos agindo sobre nossa saúde mental.
O orgasmo pode ter um efeito terapêutico
A psicanalista especializada em sexo Magdalena Salamanca apontou em entrevista para a BBC, a ausência de prazer sexual como possível agravante para doenças e transtornos mentais. Segundo ela, a saúde física e psíquica estariam intimamente ligadas à satisfação sexual proporcionada pelo orgasmo. Um estudo feito pela Universidade Rutgers comprovou que a atividade cerebral iniciada pelo orgasmo se alastra por todo o sistema límbico, unidade responsável pelas emoções e comportamentos sociais.
É inegável a gama de benesses que o prazer sexual pode proporcionar ao bem-estar das mulheres. Desde reduzir o estresse e diminuir a ansiedade até o aumento da sensação de bem-estar gerada pela liberação de ocitocina, hormônio que propicia uma intensa sensação de felicidade. O fato é que, embora ainda escassos, os estudos que existem parecem apontar para uma certeira capacidade do orgasmo de favorecer a saúde mental das mulheres.
Isso não quer dizer que você necessite de um parceiro ou de uma parceira sexual para ser plenamente feliz. Longe disso, quer dizer que, assim como outras variáveis, o sexo pode ter um papel importante no bem viver feminino. Falam por aí que o orgasmo, a sós ou acompanhada, é uma reza, mas não pode de jeito nenhum ser o único balizador de sucesso das nossas experiências sexuais. Se não, teremos mais um peso — o da ditadura do gozo — e transformaremos o prazer em dever.
Sexualidade é autoconhecimento. Então relaxe, descubra-se. Que a gente se permita fazer essa viagem para dentro. Essa supernova, essa petite mort. Que aproveitemos da sorte de sermos as únicas na face da terra a termos um órgão dedicado única e exclusivamente ao prazer — e que possamos usá-lo sem culpa. No nosso tempo, do nosso jeito.
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