o lado vermelho dos contos de fada

Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Bela Adormecida e muitos outros contos de fada: em todos há uma personagem feminina que se depara com alguma situação que as tiram de seu mundo infantil, adentrando a um mundo totalmente novo e mais maduro. E você já reparou que sempre tem alguma coisa na cor vermelha que muda a vida dessas donzelas pra sempre? A maçã da Branca de Neve, a capa da Chapéuzinho Vermelho ou mesmo a Bela Adormecida, com o sangue que sai de seu dedo ao se cortar no tear. Reconheceu com o que tudo isso se parece? Siiim, ela mesma! A menstruação! Outra coisa que deixa ainda mais evidente essa relação são os arquétipos presentes nos personagens que participam dessa história: a donzela, a mãe, a bruxa e a feiticeira, exatamente os mesmos arquétipos de cada fase do ciclo menstrual! Aliás, falamos mais desses arquétipos aqui.

Mas como assim nunca soubemos disso? Pois é, os contos de fada surgiram séculos atrás e eram contados de forma oral buscando passar saberes, e o mais incrível deles é esse estímulo ao inconsciente por meio de arquétipos, permitindo várias interpretações e muita identificação, por isso mesmo um mundo tão mutante eles permanecem vivos. Mas, ao longo do tempo, com a indústria do entretenimento, uma sociedade orientada pelo masculino e uma adaptação para o mundo infantil, muitas mensagens importantes dos contos de fada acabaram ficando em segundo plano e a interpretação passou a ser uma só, conhecida pela “moral da história”. O termo moral vem de “costumes”, e esses contos passaram a ter uma serventia de mostrar o que é certo e errado ou permitido e proibido de acordo com as regras impostas pela sociedade da época, restringindo, assim, seu imenso universo de significados e interpretações sobre questões emocionais, sexuais, familiares e universais.

A seguir, vamos analisar mais detalhadamente alguns dos principais contos de fada para vermos que essas “mocinhas indefesas” eram, na verdade, donzelas se tornando verdadeiras guerreiras por escolha própria, com muito amor e coragem!

branca de neve

A Branca de Neve come uma maçã, oferecida por uma bruxa, e assim entra em sono profundo. Se reconhecemos essa maçã como a menstruação e a bruxa como o arquétipo da anciã que está lhe iniciando nessa nova fase, além de tudo fazer mais sentido. Lembra que antes da maçã seu mundo era infantil e depois tudo mudou? Depois de comer a maçã oferecida por essa bruxa ela se insere em um universo menos ingênuo, mais maduro. Nesse caso, ao enxergar essa versão, ajudamos a desconstruir até mesmo a rivalidade e maldade entre mulheres, pois a bruxa não quer seu mal, ela apenas está guiando a mesma para o início de uma nova fase, como as mulheres mais velhas faziam antigamente (falamos mais sobre o arquétipo da bruxa anciã aqui nesse texto). Existe um detalhe que também faz toda a diferença e tira a donzela do papel passivo: se lembrarmos bem, a Branca de Neve escolhe comer a maçã, ela não é obrigada, e mesmo com todas as suspeitas ela toma essa decisão, como se ela soubesse que é necessário coragem para enfrentar esse novo ciclo. Mais elementos reveladores estão presentes: no tempo em que fica no “caixão”, após ser envenenada, ela recebe a visita de três pássaros: a coruja, que simboliza sabedoria, o corvo, que é a consciência madura e a pomba, representando o amor. Os animais apresentados compõem a “preparação para a maturidade” da personagem, descrevendo o amadurecimento e o caminho que ela precisou travar para tanto. E para fechar, vamos voltar ao comecinho da história, quando a Rainha, mãe da Branca de Neve, deixou deixou que três gotas de sangue vermelho caíssem na neve branca e deslumbrada pelas cores, desejou ter um filho, mais uma simbologia clara da cor vermelha e da fertilidade.

chapéuzinho vermelho

No percurso entre a casa de Chapeuzinho, onde morava com a mãe, e a casa da avó, temos o bosque, que representa o ritual de transição da infância para o mundo adulto, ao entrar esse bosque (cujo a mãe recomendou não entrar, representando o desejo e medo da mãe que a filha cresça), ela sai de um personagem inocente para aos poucos se tornar mais um arquétipo de guerreira, obstinada em sua missão e disposta a enfrentar tudo sozinha. Lembra que a Chapeuzinho escolhe falar e dar atenção ao lobo, mesmo sabendo de todo o perigo? A personagem deixa para trás os aspectos infantis da proteção permanente da mãe e explora um mundo cheio de riscos, mas também de oportunidades de crescimento, e ela sabe disso. O personagem do lobo, tão assustador, pode ser visto como o desabrochar da sexualidade, momento cheio de desafios e novidades. Além, é claro, da própria capa da Chapéuzinho na cor vermelha, que nomeia a história. Viu como a Chapeuzinho era corajosa e escolheu passar por isso tudo?

bela adormecida

A personagem dorme por um tempo e acorda transformada. O elemento trazido que a levou a esse sono profundo é o sangue que sai do corte de seus dedos, acarretado pelo tear sabotado pela feiticeira (outro arquétipo do ciclo menstrual, falamos sobre ele aqui), a feiticeira é o arquétipo da fase pré-ovulação, ela é cheia de insights, sabedoria e coragem, e é justamente ela que conduz a Bela Adormecida para essa nova fase, tirando-a do arquétipo da donzela. Esse sangue simbolizando a menstruação dá mais sentido a história, pois quando menstruamos começamos a enxergar nossas sombras, no período da menstruação ficamos mais cansadas, pensativas, como um sono profundo mesmo, mergulhando nesse mundo interior, mais quieto e silencioso, tratando-se da primeira menstruação, assim como a Bela Adormecida, essa jovem mulher precisa de um tempo para amadurecer. E por último, podemos enxergar o príncipe como a representação de um início de relacionamento que só é possível quando saímos da infância e entramos nesse novo mundo.

Saber essas novas perspectivas, além de ser uma delícia, é um processo muito didático para que as jovens entendam que se tornar mulher não é ruim, é apenas uma fase natural pela qual todas de nós passamos e que amplia nosso universo, deixando-o muito mais complexo e interessante. Essa mudança de etapa pode ser vista e explicada também por meio dos arquétipos: enquanto crianças somos donzelas (ah, antes donzelas eram denominadas como “virgens”, o que nada tinha a ver com sexo, como foi distorcido hoje em dia, mas sim com uma mulher que nao se casou e, por isso, não é propriedade de ninguém, é dona de si), ao menstruar ela torna-se mais o arquétipo da guerreira, obstinada e sem a ingenuidade de antes, dona de seu destino.

Dizemos guerreira a menina mulher que fortalece sua natureza instintiva, sabendo distinguir o que é um desafio bom para seu crescimento de um obstáculo que ela precisa fugir para se manter plena. Para isso, é preciso que ela tenha confiança em si mesma e nas suas vontades, deixando para trás a vontade de ser “boazinha” ou bem comportada apenas para agradar aos outros, caminho esse que pode ser mostrado pelos arquétipos da feiticeira e da bruxa, que estão tanto em outras mulheres, quanto em si mesma, como nos contos de fada. Dessa maneira, essa mulher se abre para um novo mundo menos ingênuo e passa a participar ativamente dos momentos que vive, com perguntas, curiosidades e consciência - parafraseando Clarice Pinkola em Mulheres que Correm com os Lobos, “Ingenuidade é não saber nada e seguir o caminho do bem. Inocência é saber tudo e, assim, seguir o caminho do bem”, isso é o processo de amadurecimento.

E, ao usar histórias já conhecidas, mas ressignificando-as, enxergamos que o final feliz dos contos de fada são justamente quando essas meninas entram na fase adulta, após a menstruação, com amor e coragem.


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