sangue sagrado: uma história de autoconhecimento e reconhecimento de poder na Nigéria

Ainda acontece: em alguns lugares do mundo, o sangue menstrual é visto como sujo, impuro, intocável. Provoca nojo, repulsa. Em alguns lugares do mundo, inclusive, a aversão é tão enraizada que meninas e mulheres menstruadas são isoladas de qualquer contato social e proibidas de executarem essa ou aquela tarefa. Mas num vilarejo no norte da Nigéria, meninas e mulheres têm encontrado uma poderosa ferramenta de autoconhecimento, poder e resistência contra esse tabu. É por meio do uso dos coletores menstruais que elas estão pegando suas histórias pelas mãos e reescrevendo-as como protagonistas que são. O Sangue Sagrado, curta-metragem da jornalista brasileira Thainá Prado, retrata essa narrativa de forma lindíssima. É um daqueles filmes inspiradores, que dão quentinho no coração, sabe?

Para que a produção nascesse, Thainá se uniu à médica nigeriana Nkasi Obim Nebo. As duas se conheceram durante ações humanitárias no continente africano e foi depois de muita pesquisa que a brasileira resolveu documentar o impacto físico, social e psicológico que o tabu menstrual tem na vida das nigerianas. Por trás do filme, está a missão de ampliar o discurso aberto sobre a menstruação, promover o empoderamento e conhecimento sobre os ciclos menstruais e, principalmente, dar suporte às ações realizadas pela ONG PeachAid Medical Initiative (PMI).

“esse é o seu próprio corpo. você é dona. é seu.”

A fala potente, que aparece no filme, é de Nkasi. Integrante da equipe de produção do Sangue Sagrado, a médica é também CEO da ONG PMI. Desde 2015, luta pela saúde feminina, pela sobrevivência materna e pelo empoderamento de meninas e mulheres nigerianas. Foi vencedora do prêmio Points of Light — 2020, da Commonwealth pela Rainha Elizabeth II e também laureada campeã no 120Under40 2019. No curta, traduziu e atuou como assistente de produção durante todo o processo de filmagem.

Num país que carrega o slogan “a mulher é vista, mas a voz não é ouvida”, trabalhos como o de Nkasi são fundamentais. É por meio deles que a resistência feminina se estrutura e é graças a ações realizadas por gente comprometida como Nkasi que a saúde, a segurança e o bem-estar de meninas e mulheres são assegurados.

Recentemente, uma campanha realizada no Brasil e liderada por Thainá conseguiu arrecadar mais de R$ 25 mil para a distribuição de novos coletores menstruais na Nigéria. O impacto é imenso: sem condições financeiras, muitas nigerianas acabam recorrendo a trapos ou casca de árvores para absorver o fluxo. Algumas chegam a ficar até quatro horas sentadas em baldes com areia. Além de usarem métodos ineficazes e desconfortáveis, também estão sujeitas a infecções genitais e outras doenças.

Ter acesso à informação sobre nosso corpo e dispor de meios seguros e higiênicos para o período menstrual deveria ser um direito garantido a todas nós. Porque o sangue menstrual é parte de quem somos. É sinal de saúde. Se querem nos fazer acreditar que é sujo, impuro e intocável, agora sabemos que é potente, lindo, mágico. E é importantíssimo que façamos com que cada uma de nós, em cada lugarzinho do planeta, saiba disso. É por isso que Sangue Sagrado é tão importante (e bonito!). Portanto, que tal se juntar — pode ser online mesmo — com a sua rede para assistirem juntas, amiga? Se cada uma de nós indicar para outras mais, a mensagem inspiradora e empoderadora vai longe <3